Trajados com indumentárias indígenas e pintura, é fácil perceber quando o Gavião Kyikatejê, do Pará, entra em campo. Já eliminado da competição, o pri
Trajados com indumentárias indígenas e pintura, é fácil perceber quando o Gavião Kyikatejê, do Pará, entra em campo. Já eliminado da competição, o primeiro clube profissional indígena do país e a Seleção Brasileira Sub-15 fizeram a abertura oficial da Copa 2 de Julho de Futebol Sub-15 em uma partida cheia de simbolismo. No entanto, para entender o significado, é preciso conhecer a história do Gavião Kyikatejê.
Oriundos de Bom Jesus de Tocantins e Marabá, ambas cidades no Pará, a origem do clube do povo Kyikatejê-Gavião começa a partir de uma afirmação sobre a própria cultura. Após três atletas indígenas ouvirem do vice-presidente de um clube brasileiro que não poderiam assumir sua etnia, o cacique Pepkrakte Jakukreikapiti, conhecido também como Zeca Gavião, entendeu que era preciso fazer algo.
”Ele disse para os meninos que eles não podiam dizer que eram indígenas, então eles não quiseram por causa do racismo, do preconceito. Fiquei triste, mas para mim foi uma motivação. O jeito foi criarmos um time profissional para colocar indígenas no cenário esportivo do futebol”, afirma Zeca Gavião.
Com isso, Zeca Gavião, resolveu criar o próprio time indígena, o Gavião Kyikatejê. A iniciativa busca que indígenas possam jogar contra outros times sem precisar negar sua origem. O clube foi profissionalizado em 2008. Desde então, o time já esteve na elite do futebol paraense e hoje se encontra na divisão de acesso estadual.
Copa 2 de Julho
Já eliminados da Copa 2 de Julho, o Gavião Kyikatejê fez a abertura oficial da competição numa disputa com a Seleção Brasileira Sub-15, no Estádio de Pituaçu. Com duas vitórias e duas derrotas, o clube indígena ficou em terceiro lugar no grupo – atrás apenas da Seleção Brasileira e do Atlético Mineiro, atual campeão da competição, ambos os clubes pelos quais foi derrotado.
O chefe de gabinete da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), autarquia da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), Diogo Rios comenta os pontos positivos da ação. “Para nós, é mais que simbolismo. É o reconhecimento da nossa própria cultura. Não tem como falar do 2 de Julho sem falar da participação dos caboclos e dos indígenas da época, aqueles que defendiam o Brasil como país independente”, afirma.
Mesmo com o resultado negativo, Zeca Gavião reforça o potencial da geração de atletas indígenas formados pelo clube. “Percebemos que esse Sub-15 vai vingar. Vamos ter indígenas no cenário do futebol brasileiro. Hoje, o Gavião Kyikatejê é realidade. Hoje estamos no cenário do futebol”, afirma.
A Sudesb fez uma visita técnica para conhecer a estrutura do clube, que foi considerada de boa qualidade. Com isso, Diogo reforça a importância da participação do clube indígena na Copa 2 de Julho. “Que isso sirva de exemplo e inspiração para que mais indígenas conquistem o seu espaço no futebol, além de chamarmos atenção não apenas para o racismo presente no futebol, mas para tudo aquilo que é contrário às minorias. O fato de ser indígena não pode depreciar um sujeito a ponto de não assinar o contrato por ser indígena. É loucura isso!”.
A Copa 2 de Julho é organizada pela Sudesb, com apoio do Ministério do Esporte, da Federação Bahiana de Futebol (FBF) e da Federação Baiana de Desporto de Participação (FBDP). As partidas seguem durante esta semana até o sábado, 13, dia da grande final da competição no Estádio de Pituaçu.
Fonte: Ascom/Sudesb